(do livro "A oposição libertária em Portugal, 1939-1974", de Edgar Rodrigues)
"Natural de Beja, chegou ao anarquismo para ficar.
Gosta de reunir-se, de falar e tinha "sonhos" de alcance impossível.
Gostava de comprar pássaros engaiolados para soltá-los, vê-los voar livremente, gorgitar de alegria.
Na sua caminhada como propagandista do anarquismo, escrevia e falava como um pregador que tenta convencer os seus paroquianos.
Fazia palestras para os camponeses a quem dedicou folhetos, tais como Estreia de um crente e deles merecia grande consideração e estima.
Mais tarde comprou uma grande área de terras e tentou por em prática a Comuna da Luz em Vale de Cavalos, em Odemira. Mas a ideia não foi avante tantos foram os obstáculos que se lhe opuseram.
Esses tipos de iniciativas têm sempre vários tipos de inimigos, mas um dos maiores é o próprio homem que delas participar. Preso a atavismos, a preconceitos e a hierarquias subjectivas, não tarda a desentender-se. Os "70 pecados capitais" herdados em arquétipos e absorvidos numa convivências diária com as outras vítimas da educação burguesa, condicionam o homem de tal forma que o seu "reaccionário interior" acaba por empurrá-lo para divergências fúteis mas ruinosas.
O anarquismo exige muito do ser humano e a sociedade burguesia e clerical, mercantilista e bélica, em que vivemos, de interesses e lucros, não nos prepara para sermos livres, vivermos livres, lado-a-lado com os nossos semelhantes. A liberdade externa só, não é o suficiente, e a interna custa a adquirir , é algo a ser cultivado com o tempo, o convívio, uma reeducação permanente, tal como a saúde e a vida.
Gonçalves Correia colaborava na imprensa com trabalhos curtos, sem conteúdo prático, entretanto acreditava na revolução social para breve. Morreu acreditando nisso."
1 comentário:
Eu, vivo acreditando nisso...cada vez mais!
Um abraço, Inês.
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