"(...) Depois de ter juntado um grande ramo de flores diversas, ia para casa quando descobri, num fosso, um maravilhoso cardo, carmesim, em plena flor, daquela espécie que entre nós se chama «tártaro» e que, durante a sega da erva, é sempre contornado com cuidado e, caso seja cortado sem querer, é tirado do feno pelos gadanheiros para não picar as mãos. Apeteceu-me colher no cardo e pô-lo no meio do ramo. Desci ao fosso e, depois de enxotar um abelhão felpudo que adormecera deleitosamente agarrado à flor, comecei a partir o caule. Muito difícil, porém: a haste não só picava por todos os lados, mesmo através do lenço com que eu tinha envolvido a mão, mas era também tão duro que lutei com ele uns cinco minutos, pelo menos, rasgando os filamentos um a um. Quando, por fim, arranquei a flor, a haste estava toda em farrapos e a flor já não parecia fresca nem bonita. Além disso, o seu aspecto tosco e berrante não condizia com as ternas flores com que eu compusera o ramo. Lamentei ter destruído inutilmente uma flor que, no seu lugar, era tão linda. Deitei-a fora. «É impressionante a força, a energia daquela flor - pensei, recordando o que me custara arrancá-la. - Lutou muito pela vida e vendeu-a caro.» (...)"
Leão Tolstoi, em "Hadji-Murat"
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