19 de maio de 2012

Dois artigos no "Diário do Alentejo", que referem António Gonçalves Correia

#1

11 de novembro de 1918: Assinatura do Armistício que põe fim à 1.ª Guerra Mundial
14-11-2011


A notícia do armistício chegou célere a Beja. E assim que foi do conhecimento da cidade a suspensão das hostilidades por força da assinatura do armistício, o que ocorreu às cinco horas do dia 11 de novembro de 1918, logo, em Beja, um grupo de sócios da Sociedade Recreativa Artística Bejense organizou uma manifestação de júbilo, uma "marche aux flambeaux", como refere a imprensa da época, pelo fim da guerra. Portanto, uma enorme massa de povo saiu à rua, com entusiasmo, tendo à frente a filarmónica União Capricho e, assim, dando vivas ao exército, aos aliados, às nações vitoriosas, à Pátria e à República percorreu as principais ruas de Beja.

À noite, novo cortejo se organizou que, depois de voltar a percorrer as artérias da cidade, se veio a concentrar na praça da República onde de uma das janelas da Câmara Municipal falaram à multidão o presidente da Comissão Administrativa da edilidade, José Dias Rosa, Manuel Duarte Laranjo Gomes Palma, Santos Ferro e Gonçalves Correia, os quais saudaram as nações vitoriosas.

O curioso desta situação prende--se com o facto de Gonçalves Correia, anarquista de raiz tolstoiana e fundador da Comuna da Luz, em 1917, na herdade das Fornalhas Velhas, Vale de Santiago, ter sido poucos dias depois preso em Beja, mais concretamente a 29 de novembro, e enviado para a prisão do Limoeiro com a acusação de ser um dos organizadores, em Vale de Santiago, da greve geral decretada pela União Nacional, que se desenvolveu de 18 a 22 de novembro de 1918, e um dos impulsionadores dos assaltos aos celeiros dos lavradores que aqui ocorreram.

Ainda no âmbito das comemorações da assinatura do Armistício, em Beja, dia 14 de novembro, segundo a imprensa da época, foi distribuído um bodo a 1 050 pobres das quatro freguesias da cidade o qual constava de 500 gramas de carne de vaca, 100 gramas de toucinho, 250 gramas de arroz, 1 quilo de pão de trigo, meio litro de vinho e 20 centavos em dinheiro. A iniciativa do bodo partiu do governo civil e a distribuição destes géneros, adquiridos através duma subscrição pública, foi feita pelas juntas de paróquia das quatro freguesias.

Constantino Piçarra


#2


18 de Novembro de 1918: Greve geral com forte impacto em Vale de Santiago, concelho de Odemira

21-11-2011

Num contexto de forte agitação social contra a guerra e os seus efeitos, a que o governo da República responde com a suspensão das garantias constitucionais a 20 de maio de 1917 e Linka declaração do estado de sítio, em Lisboa, a 12 de julho, Sidónio Pais, a 5 de dezembro de 1917, avança para a revolução financiado pelos grandes proprietários agrícolas alentejanos, com o apoio do Partido Unionista.

O povo de Lisboa e parte do operariado estão com Sidónio, o que lhe garante a vitória. No entanto, este apoio inicial vai-se esboroando à medida que o governo sidonista vai desenvolvendo a sua acção. De tal maneira é assim que, a partir de março de 1918, o movimento popular e o operariado afastam-se de Sidónio e a contestação popular generaliza-se. Toda esta contestação vai culminar na marcação, pela União Operária Nacional, da greve geral de 18 de novembro de 1918. Esta greve que, de uma forma geral, se salda num fracasso vai ter uma forte adesão no distrito de Beja, mais concretamente em Vale de Santiago, concelho de Odemira. Aqui, de 18 a 22 de novembro, os assalariados rurais, dando vivas aos sovietes e à revolução social, ocupam algumas herdades e assaltam os celeiros, dividindo entre si o trigo. A esta revolta sucede-se uma brutal repressão desenvolvida pelo exército e Guarda Nacional Republicana, em estreita articulação com os proprietários agrícolas. Dezenas de grevistas são presos e, posteriormente, deportados para África.

No mesmo território em que ocorre este movimento revolucionário está instalada uma comuna, a "Comuna da Luz", mais concretamente na herdade das Fornalhas Velhas. Esta comuna tinha sido fundada em 1917 por António Gonçalves Correia, caixeiro viajante, natural de São Marcos da Ataboeira, concelho de Castro Verde. Guiado pelo seu ideal anarquista de raiz tolstoiana, Gonçalves Correia, acompanhado por 15 companheiros, incluindo mulheres e crianças, funda esta comuna onde a subsistência é assegurada pela actividade agrícola e pelo fabrico de calçado.

Acusado de ser um dos instigadores da sublevação dos grevistas em Vale de Santiago, Gonçalves Correia é preso dia 29 de novembro, em Beja, e enviado para a prisão do Limoeiro, em Lisboa, e a "Comuna da Luz" é dissolvida pelas forças militares que ocupam o território.

Constantino Piçarra

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