19 de setembro de 2014

Décimas a António Gonçalves Correia

por António Pereira

Ele levava a Liberdade               
A todo o lugar que ia.
A toda a gente que via
Dizia em sinceridade
Da sua ideia, a bondade.
Em qualquer lado que estava
Esse sonho que levava,
Nascido do coração
Quase como uma oração,
A todos ele o contava.

O Gonçalves Correia andou
De caixeiro-viajante
Quem o viu até garante
Que alguma coisa ficou.
Que se ele tanto adubou
O seu sonho vai crescer
E vai outra vez viver
Logo que chegue seu tempo,
É só esperar o momento,
Da semente florescer.

Incansável lutador                               
No seu Alentejo viveu
Com todos ele conviveu
Levantando seu clamor
Sempre c’ um mesmo fervor
A todos os trabalhadores
Falava dos seus amores
Liberdade, Revolução
Paz com comunhão
De iguais, sem mandadores.

Nem passarinhos, queria presos
Abria gaiolas nas feiras
Soltava-os como bandeiras
Lutava p’los indefesos
Deixava todos surpresos
Com as coisas que fazia.
Sempre que ele aparecia
A liberdade trazendo
Seu ideal defendendo
A opressão estremecia.

Hoje tem nome na rua   
No Alentejo é lembrado
Um pouco por todo o lado
Sua bandeira flutua
Negra, de noite com Lua
Nada pode a opressão
Contra livre coração.
Gonçalves Correia via
P’ra onde o futuro corria
Deixou-nos essa lição.



[poema enviado por e-mail pelo próprio autor, a quem desde já endereçamos o nosso agradecimento]

2 comentários:

Luiz Aurélio disse...

Olá companheiro, divulguei este poema através do blog Anarquia e Poesia, http://anarquiaepoesia.blogspot.com.br/

Abraço Libertário

Ortigão disse...

Décimas muito bem feitas e que muito apreciei. proveito para mandar estas de mais outro poeta alentehano:

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DEDICADO A GONÇALVES CORREIA

por Baltazar Carneirinho

Sei que pareço um ladrão
E outros tipos que eu conheço
Que parece que não são
São aquilo que eu pareço (*)

Desde que chegou a mim
Alguma maturidade
É desde essa idade
Que uso a barba assim
Vou ao café ou jardim
Os ladrões também lá vão
Com esta apresentação
Que pareço há tantos anos
E como eles são humanos
Sei que pareço um ladrão

De parecer até o ser
Há uma grande diferença
E nem tudo o que se pensa
A gente deve dizer
Se me querem ofender
Por isso não me aborreço
Mas também não agradeço
Por alguém me comparar
Com o Doutor Salazar
E outros tipos que eu conheço

Quando há reuniões
De chefes salazaristas
Muitos deles vigaristas
De todas as profissões
Usando más intenções
Com a caneta na mão
Ditam sua invenção
Explorando os portugueses
E são estes muitas vezes
Que parece que não são

Censuram por eu usar
Cabelo e barba crescida
E há muita língua comprida
Quando me vêem passar
Logo me vêm chamar
Aquilo que não mereço
Estão vendo do avesso
Os olhos desses senhores
Que alguns mesmo doutores
São aquilo que eu pareço

(*) Quadra de António Aleixo, algo alterada, para fazer glosas dedicadas a Gonçalves Correia, caixeiro viajante, muito conhecido e natural do Distrito de Beja, de idéias anarco-sindicalistas e naturistas, que usava o cabelo e barba crescidos.

https://docs.google.com/document/d/1z4foqMExEhRCNQT1PEqp814dU_k6flxFI_s1GTGX0H4/edit