7 de novembro de 2009

Alentejo, legenda e esperança

António Dias Lourenço ainda vive e tem quase 100 anos. Nasceu em Vila Franca de Xira no dia 25 de Março de 1915, e tem uma vida dedicada ao povo português. Resistente anti-fascista, membro destacado da estrutura clandestina do PCP, que passou a integrar em 1931, esteve preso 17 anos, mas protagonizou uma das mais célebres fugas do Forte de Peniche, aliás retratada no filme "A fuga".

Dias Lourenço esteve, durante as décadas de 40 e 50, directamente ligado às lutas do chamado "proletariado rural" alentejano, e dessa experiência se serviu há uma década, mais coisa menos coisa, para escrever "Alentejo, legenda e esperança - I", um livro magnífico, resumido por Urbano Tavares Rodrigues da seguinte forma:
Livro com muito interesse, que, num português claro e elegante, historia, de um ponto de vista marxista, as lutas de classe no Alentejo desde o repovoamento que se seguiu à Reconquista até à Lei das Sesmarias, às transformações operadas pela Revolução Liberal de 1820 e pela República de 1910, insistindo especialmente na formação das associações sindicais e nos combates dos trabalhadores pela melhoria das suas condições de vida, durante o Estado Novo.

Dias Lourenço, que foi um herói da Resistência Antifascista, militante clandestino do PCP, preso durante 17 anos, com prodigiosas evasões e uma vida aventurosa, é, alem disso, um operário culto, metalomecânico, que frequentou a Universidade Popular, leu muito e, como já disse, escreve bem. Neste livro as suas páginas sobre a Revolução Agrária em Portugal, depois do 25 de Abril, têm valor histórico e contêm informações preciosas. Parece-me obra digna de figurar nas Bibliotecas da Gulbenkian. Embora com uma perspectiva partidária, tem grande importância documental, é inteligente e estimula o estudo e a discussão de um período fascinante da nossa História recente, a transformação do País.

Trata-se de leitura vivamente aconselhada a quem procura mais informação sobre as seculares lutas travadas por quem trabalhou a terra no Alentejo, desde a fundação ao 25 de Abril de 1974.

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