13 de setembro de 2011

A escola moderna, de Francisco Ferrer y Guardia

Em recente intervenção pública, o actual ministro da educação, Nuno Crato, colocava em relevo a relação entre educação e vencimentos, procurando apelar à vontade e motivação dos alunos com a perspectiva de uma vida desafogada em função de uma qualificação obtida.

Não obstante os dados demonstrarem que os trabalhadores por conta de outrém mais bem remunerados serem de facto pessoas em regra bem qualificadas, da mesma forma que as estatísticas ilustram a situação de dezenas de milhares de licenciados no desemprego e em ocupação precárias e mal pagas, é a relação estabelecida pelo ministro entre estudo e dinheiro que importa aqui relevar.

A escola de hoje é ante-câmara do mercado de trabalho, tendencialmente estruturada à imagem da economia local e nacional. Esta relação entre escola e economia não seria dramática se, e aqui sublinho o "se", os enormes problemas do país não revelassem todos os dias a desadequação da estrutura económica nacional. A escola tende a adaptar-se a um Portugal desadaptado das exigências do desenvolvimento.

Pior: a escola de hoje ensina aquilo que amanhã será profundamente obsoleto; os testes, os exames, as provas globais, testam desempenhos (mais do que conhecimentos e competências efectivas) que no futuro serão tão relevantes como são hoje as linhas de caminhos de ferro de Angola, decoradas pelos avós e bisavós da actual geração de crianças e adolescentes em formação. A "exigência" que é bandeira dos sucessivos governos - mais de uns do que doutros - e chavão do politicamente correcto nacional não produzirá frutos pela simples razão de que os frutos hoje cultivados estarão fora d'época no momento da colheita.

Não há sinal de modernidade na escola deste princípio do século.

É por isso com tristeza que vejo marginalizadas todas as abordagens científicas-pedagógicas portadoras de uma nova visão da educação, da escola e de todos aqueles que lhe dão vida. Abordagens como a de Francisco Ferrer y Guardia e da sua moderna "Escola Moderna", passe a redondância.


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